sábado, 9 de agosto de 2014

Sobre paredes e elefantes...


Sobreposição de foto disponível neste link em plano de fundo de criação própria



     Com a ponta das unhas ela ia aumentando o desenho do descascado na parede. Lasquinhas de reboco coberto de tinta salpicavam-lhe a calça jeans. Ela já estava sentada naquele canto do chão há provavelmente uns 40 minutos. Não havia ânimo para outro afazer. Nem mesmo o vento frio lhe arrancava da inércia. Era nele que ela pensava, que ela paralisava...
    
     A vida era campeã em suas crueldades. Dera-lhe de presente o encontro tão ansiado. Algum tão pouquíssimo tempo depois cismara em lhe esbofetear o rosto. De ímpeto, ela fora cristã. Ofereceu a outra face. Deixa doer. Pois até dor é bem vinda! É bem vida! Agora, era só o marasmo.

     Já havia um elefante na parede corroída. Seus olhos piscaram, assim, em tentativa de afastar tênues poeirinhas. Ela suplicou por uma manada de paquidermes, que o estrago pedia exageros! Não vieram. Houve, porém, foi uma gargalhada na casa vizinha. A parede, perdendo a espessura, reverberava as ondas sonoras e seu ouvido mostrava-lhe que era inútil fingir isolamentos.

      Começou a passar a palma das mãos pelas coxas buscando limpar a calça. As unhas agradeceram o descanso. Por uns minutos a mente também, mas veio de novo a gargalhada. Pelo estridente, era, com certeza, riso feminino. Esse gargalhar feminil que as ausências pouparam a ela. Alguém alegre? Como podia haver alguém a rir no mundo, a rir do mundo?

      No entanto, era injusto pedir silêncio. Ela não queria o silêncio de ninguém. Ela não queria o silêncio dele. Ela queria... um remédio para as unhas? De repente passaram a arder com tamanha intensidade. Parede ingrata! Atraíra-a para uma função insana e, indiferente ao áspero afago, traía-a, no momento seguinte, com risadas e garras lancinantes.

      E daí? Desconhecia-lhe a força? Ela não choraria. Apenas abriria a porta à espera dos elefantes. Em hora mais inesperada – era certo! – eles chegariam!