sexta-feira, 26 de julho de 2013

Aqueles minutos...




Ela estava parada ante a caixinha de brincos, indecisa. Não era de se maquiar. Deixava nua a pele do rosto. Bastavam-lhe rímel e batom. Fazia questão, porém, da escolha certa dos brincos. A festa já devia estar começando. Saber-se atrasada aumentava sua hesitação. Era nítido o nervosismo em suas mãos a mexer no porta-joias.

Ele, no entanto, não se importava, de fato, com o relógio. Era prazeroso vê-la se arrumando. Ela atendia o interfone, ele entrava e chegava à beira do quarto, encostava-se ao batente da porta, no aguardo. Era sempre assim. Nada dizia. Apenas observava.

Lá fora, o barulho dos carros aumentava. Por um breve instante, os olhos dela correram em direção à janela. Foi como uma aragem. Eles pousaram exatamente no acessório adequado. As mãos tornaram-se, de pronto, ágeis.

Habituara-se ao estilo da amada. Ela conseguia reunir simplicidade e sofisticação, presteza e languidez. Ele só via a beleza cativante de seu sorriso. Os cabelos estavam sempre soltos, em convite para o deslizar dos dedos. A tarde em que ele a conhecera não era de vento. Fosse, e a paixão teria sido arrebatadora. Melhor assim. Houve tempo para a lapidação da querência. Ela era do tipo que exigia vagar e ele comprazia-se com a detença.

O olhar dele não descansava. Acompanhava cada pequeno movimento. Ela, preocupada. Quantos minutos já de espera?

De repente, ela lhe sorriu com um pedido mudo de desculpas no rosto. Estava pronta. Ele nada lhe diria sobre não se importar com o avançado da hora. Seria quebrar o encanto.

   
   

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