quinta-feira, 11 de junho de 2015

dos amores que (não) se fazem eternos




Foi assim que tudo começou. No início pareceu-me que seria simples. Eu não consegui, de imediato, visualizar a estrondosa dimensão daquele ato. Não consegui por uma única razão: não pensei. Apenas acreditei. E me atirei inteira – corpo, alma, coração! Eu sentia a força dos batimentos cardíacos, das contrações musculares, e, ao mesmo tempo, certa leveza, como se folha eu fosse a flanar sob o impulso da brisa.

    Eu tinha consciência somente do seu ritmo, consonante ao meu. Eu fantasiei que o relógio marcaria 18 horas para todo o sempre. Fantasiei também que só haveria dor de exaustão, quando o corpo não mais acompanhasse o frenesi da alma e insistisse na vontade do sono. Para essa dor, eu me aninharia em seu peito e você acobertaria seu rosto em meus cabelos.

    Ah! Mas a simplicidade é só desejo de amantes! De repente a fome se instalou – não esta: a do desejo – mas a fome mecânica de estômagos. Fome de arroz e feijão, que gera panelas sobre o fogão e talheres sujos. De repente não éramos mais dois seres envolvidos na magia do amor. Havia uma casa, havia objetos, havia contas a pagar...

    Nós nos perdemos. Não tecemos o fio do “felizes para sempre” para além do beijo e do amor. Não soubemos conciliar o funcionamento do leito com o funcionamento do mundo. A dor foi lágrima na minha e na sua face. Carregamos, com o poeta, o lema dos amores que não se fazem eternos, mas infinitos enquanto duram. Decidimos colecionar lembranças. 

    Foi assim que continuamos atentos um ao outro. Contentes nas lembranças, nas reminiscências, na busca de notícias, mensagens e breves encontros. Percebemos, neste novo trajeto, que nunca mais seríamos sós. Seria sempre você em mim e eu em você.

    Não fantasiei mais nada. Os ponteiros do relógio caminhavam para nós dois.