sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Primavera


  
Aquela era a época dos 15 anos. Eu ainda parecia criança. A escola, pela manhã; à tarde, os serviços caseiros; os sonhos, à noite. O mundo resumia-se à finitude dos quilômetros das poucas terras que eu já percorrera. Qualquer outro chão compunha a abstração geográfica da fantasia que chegava pelos livros e pela televisão.

Foi quando me interessei por árvores. Não aquele interesse da infância. Eu tinha muito medo de altura. Não era de arriscar-me em pequenas levadices inconsequentes.

O que vi nas árvores não foi possibilidade de movimento – subir, descer – usando pés e mãos. A atração se fez feito pássaro. As asas dos olhos em direção à copa florida. Espaços e aromas novos conduziam à exploração de cores e texturas novas. Eram os sentidos descortinando um mundo além do corpo.

A camisa branca do colégio vestiu-se de laivos de ipê. Os rastros da caminhada geravam arco-íris cortados de atalhos. Os pés, lépidos, pela estrada, não se queriam raiz. O pensamento, flor, flanando entre folhas verdes e nesgas azuis.

A primavera chegava. E – novidade! – trazia beija-flores.

   
  

9 comentários:

  1. Nossa, Márcia, te vi por um ângulo inédito pra mim e gostei muito! :-)
    Beijos,

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  2. Um texto intenso que me levou aos meus tempos de menino, às descobertas, às sensações novas que se apresentavam. Parabéns pela maneira que escreves e tão bem transmites essas marcas do sentir. Um abraço

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    1. Se o que lemos provoca algo em nós, o texto cumpriu sua função. Obrigada, Paulo! Um abraço.

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  3. Este pensador, viajeiro entre Sois
    Esta Ave pousada em mil embarcações
    Esbarco que passa sem vela ou remo
    Esta arca repleta de vibrantes emoções

    Esta mestiça flor de açafrão
    Este ramo de espinhos cravados na mão
    Esta alma que não ousa largar opinião
    Este homem vestido de solidão

    Boa semana

    Doce beijo

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  4. Lindo o texto Márcia.... cheio de luz... a foto do ipê é mesmo linda, dando um toque azul ao texto... Saudades de tua visita.

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  5. Dentre todos os poemas,

    A única poesia que encontrei

    Foi você.



    (Agamenon Troyan)

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