sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Primavera


  
Aquela era a época dos 15 anos. Eu ainda parecia criança. A escola, pela manhã; à tarde, os serviços caseiros; os sonhos, à noite. O mundo resumia-se à finitude dos quilômetros das poucas terras que eu já percorrera. Qualquer outro chão compunha a abstração geográfica da fantasia que chegava pelos livros e pela televisão.

Foi quando me interessei por árvores. Não aquele interesse da infância. Eu tinha muito medo de altura. Não era de arriscar-me em pequenas levadices inconsequentes.

O que vi nas árvores não foi possibilidade de movimento – subir, descer – usando pés e mãos. A atração se fez feito pássaro. As asas dos olhos em direção à copa florida. Espaços e aromas novos conduziam à exploração de cores e texturas novas. Eram os sentidos descortinando um mundo além do corpo.

A camisa branca do colégio vestiu-se de laivos de ipê. Os rastros da caminhada geravam arco-íris cortados de atalhos. Os pés, lépidos, pela estrada, não se queriam raiz. O pensamento, flor, flanando entre folhas verdes e nesgas azuis.

A primavera chegava. E – novidade! – trazia beija-flores.