http://coxixo.com.br/fotos-unhas-decoradas/fotos-unhas-decoradas-11/
É sábado e fui ao salão de beleza. É sábado e pintei as unhas. Unhas decoradas que se fizeram chamativas demais para alguém que, como eu, se acostumara à introversão. É sábado e pensei em, mais à noite, sair. O telefone tocou. Sua voz abatida, porém, conteve em mim qualquer ímpeto para a felicidade. Descobri, sem nenhum entusiasmo (que, para isso, pupila alguma se dilata ou se ilumina), a tristeza da distância na hora do sol poente.
É possível retroceder? E eu poderia reiniciar minha escrita. É sábado e fui ao salão de beleza. É sábado e pintei as unhas. Unhas decoradas que se fizeram chamativas demais para alguém que... Enfim, é sábado e pensei em sair mais à noite. O telefone tocou, como a adivinhar minha intenção. O convite. Não um convite qualquer, mas aquele pelo qual eu ansiava.
O telefone realmente tocou. Foi, no entanto, só mais um engano. Como acontecem enganos nas tardes de sábado! Eu mesma enganei-me ao concordar com a sugestão da manicure para esmaltar as unhas daquela forma. Não era meu estilo; eu sabia. Todavia, lembrando-me de um texto que lera recentemente sugerindo pequenas mudanças no cotidiano, avidamente aceitei: sim! Depois, tudo pareceria sem propósito. E eu nem queria atender ao telefone...
Sábado. E, embora eu tivesse pintando as unhas de maneira ousada, o telefone não tocava... Ainda que eu vigiasse o aparelho ou sutilmente disfarçasse indo fazer qualquer coisa na cozinha, nem que fosse abrir a geladeira pela décima primeira vez em menos de um quarto de hora. Ainda que eu me distraísse olhando para as pontas enfeitadas dos dedos e pensando que vestido combinaria mais. Ainda que eu devorasse por dentro toda a ansiedade e colocasse no rosto o sorriso exultante daquela manicure que olhava minhas unhas tal qual Michelangelo a sua Capela Sistina. Ainda...
Rabisco todos os minutos desta tarde e todas as linhas anteriores. Reiniciarei minha escrita. É sábado. O telefone tocou. Contendo qualquer outro ímpeto, avidamente aceitei: sim! Muito mais que exultante, coloquei no rosto o sorriso de quem nem precisa mais sair à noite. Não é mesmo o estilo de alguém que, como eu, se acostumara à introversão. Abri a porta. É sábado. Mas não pintei as unhas.