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Passo um tempo sem escrever. Não é o papel que rejeita a palavra. É a palavra que não quer ser semente no chão que não se sabe fértil. Fértil é palavra paroxítona terminada em L, pede acento. O chão pede assentamento. Agricultura de subsistência, de resistência, pro cerrado não se ir de todo embora. Eu repito o poeta: catar feijão se limita com escrever. E escrevo!
Eu escrevi num passado, quando se vendia o país do futuro. Comprei feijões sem muita esperança de que fossem mágicos. Se o mar não está para peixe, o chão desta terra não está para feijão que mata a fome do próprio povo. Desalentado, o povo caminha. Alguns, em busca da terra não prometida, mas tão sonhada. Outros vendendo o feijão da janta para comprar o almoço.
Virou novela o feijão e o sonho de Orígenes. Nasceu novela o feijão maravilha. E cantando saímos a botar água no feijão. Foi quando comecei a escrever o presente, entendendo o país do futuro. Eu escrevendo escrevendo escrevendo...
De repente cessou.
A linha do novelo
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A linha da escrita
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A linha de produção... do futuro.
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Vi gente se agarrando a outras verdades. Agarrei-me de novo ao Cabral – o poeta; não o da descoberta - joga-se fora o que boiar. Boiou. Quem jogou fora? De repente, eu não escrevo. Eu ouço e choro. Tampo os ouvidos, e mais ainda choro.
Eu escreverei algum dia, talvez dia nenhum, talvez todos os dias, talvez até agora: oxítonas terminadas em L não são acentuadas. Só há terra para a semente da discórdia? Eu escrevi: na fome, o feijão vale mais que o fuzil. Na língua, o fuzil é a pedra daquele feijão mal catado: um grão imastigável, de quebrar dente.
Márcia, que lindo! Amei seu texto.
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