Na minha visão extremamente ocidental, de saberes formais acumulados, digo subir para o norte e descer para o sul. Um motorista goiano conversa comigo, abala minhas certezas. Subir é pra Minas – altitude desenhada concretamente nas serras do percurso acidentado. Descer a gente desce é pros lados de Tocantins. E eu vou me apaixonando pelos poemas dos becos de Goiás. Aprendendo com Aninha o segredo dos doces sem açúcar.
Houve um tempo, adolescente desajeitada, um poetar inconsciente, preso à dificuldade de expressão oral e à necessidade mais premente de transformar as horas em pão... Nesse tempo, eu descia divagando com Manuel Bandeira do Capiberibe à Guanabara. "Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte? — O que eu vejo é o beco".
Morri em várias noites lacrimejantes acreditando que o verso mais bonito da Literatura Brasileira fosse "a vida inteira que podia ter sido e que não foi". Mas, se fui moça de letras tristes, soprou-me recentemente um vento de través, da nuca para a menina dos olhos, que é possível amadurecer com outras cores. Apurar, no fruto, perfumes outros.
Agora, minha janela se abre para a Serra Dourada. Todas as leituras de minha vida costuram-se em um novo mapa-mundi. Azuis e verdes google são nada quando se trilham tempos e espaços reais por estradas que desconstroem a noção norte-sul.
Descer-subir. Agarro-me à fala do motorista. É a minha certeza neste momento. Eu, que ainda preciso tanto de certezas,... vejo-me diante de novo verso para chamar de o mais bonito da Literatura Brasileira: "tu encontrarás, sempre, no teu caminho, alguém para a lição de que precisas".
bela inspiracao ... descer subir ... linda sua forma de expresar acontecemientos con uma relcaion de espaco e tempo... bela letra..
ResponderExcluirsaludos
linda semana
abracos
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ResponderExcluirDescer para o norte, para o sul, o que
importa, se eu desço sem régua ou compasso
para baixo como subo para cima, como todo
o mundo?
silvioafonso
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Pra variar, uma delícia de crônica, Márcia. Com todos os segredos dos doces sem açucar.
ResponderExcluirEsse riacho não será o Vermelho, em Goiás Velho, à beira do qual morou Cora Coralina?
O seu caso com o verso mais bonito e a citação de Manuel Bandeira me fizeram lembrar da opinião dele sobre o verso mais bonito em língua portuguesa, que seria um de Orestes Barbosa, na letra de "Chão de estrelas": "tu pisavas nos astros distraída". Desde que li isso, digo, parodiando a letra de Orestes, que o segundo mais bonito é: (nossas roupas comuns dependuradas/)"na corda qual Bandeiras agitados"...
Beijos
P.S.: Que legal, a banda de Santa Rosa de Viterbo em Itajubá! Se for assistir, dê um abraço no maestro Maurílio, pela Simone Guimarães e pelo Aranha (que é como me conhecem lá em Santa) O avô dela também foi maestro dessa banda; e o pai, instrumentista.
Hola, Poeta del Cielo
ResponderExcluirGracias por su visita.
Me alegro que te haya gustado.
Abrazos
Realmente, silvioafonso,
há que se perder o vício da quantificação para se alcançar a beleza da vida. Obrigada pela visita ao meu blog. Seja bem-vindo.
Tuca
É Goiás Velho. É a famosa Casa da Ponte, de Cora Coralina, a Aninha dona do verso que citei ao fim da crônica.
Acho divina a letra de Chão de Estrelas, mas desconhecia que Manuel Bandeira a admirasse tanto. E sua paródia é mesmo de deliciar (doce sem acúcar...).
Beijos
P.S.: O abraço será dado.
Encontrei a lição e um belo texto...
ResponderExcluirFalei com a Simone Guimarães ainda há pouco. O avô dela, na verdade, além de maestro foi o fundador da Banda de Santa Rosa. E o pai não tocava na banda. Embora tocasse vários instrumentos, foi impedindo pelo pai e maestro, que não tolerava suas indisciplinas de boêmio radical... rsrs
ResponderExcluirSimone pediu pra caprichar no abraço no Maurílio. O meu pode ser mais discreto...
Beijo
P.S.: Ah, o grande Luis Bento tá área. Sou fanzão do humor cáustico dele.
Márcia,
ResponderExcluirTeus textos são lindos, sempre! Você sempre me faz refletir, e com uma leveza ardilosa. Poesia de estilo!
Um beijo.
Quando vc entrou no meu blog, um tempunho depois fechei-o. Reabri faz alguns dias e...estou aqui lendo vc.
ResponderExcluirLendo esse sobre e desce, norte e sul que na verdade exite apenas nas demarcações que inventamos. O planetinha flutua solto nesse imenso Universo sem tempo e sem demarcações. Um dia, quem sabe.....rs
beijo pra vc !
Márcia, não sei o que me cresceu mais, a saudade de Goiás ou a saudade de Minas!
ResponderExcluirOlá, Luís Bento, Cris e Carolina
ResponderExcluirSejam bem-vindos ao meu blog!
Fico feliz em saber que gostaram do meu espaço.
Tuca, o abraço ainda demora um pouquinho. Será na terceira semana de dezembro.
Oi, Ricardo
Adorei essa coisa de "leveza ardilosa".
Arnoldo
Ainda não deu pra pegar esse selinho, mas vou passar lá.
Beijos a todos vocês.
Delícia de textos. Iluminados e poéticos..
ResponderExcluirDeixo os meus desejos de que tenha um Natal de luz!