Sabe quando a mulher veste sutiã que tem fecho na frente e o abraço é tão apertado que solta o fecho – às vezes até quebra o fecho? Pois é, aconteceu comigo. Episódio que ficará registrado na memória pelo cômico da situação, em contraste com a ansiedade da expectativa. Sutiã vermelho, lindo, com renda, novo!
Sabe o que acontece quando se tem um sutiã vermelho, lindo, com renda, novo... e com o fecho quebrado? Meu Deus! Ainda existem armarinhos, lojas de aviamentos? Era assim que a gente chamava há alguns poucos anos, quando minha mãe era costureira bem procurada e as mulheres ainda tinham o costume maior de comprar tecidos em vez de roupas prontas.
Despi-me da sensualidade das curvas femininas realçadas pelos detalhes da lingerie. Voltei à infância das caixas de costura cheias de bugigangas e cores que seduziam o olhar da menina vaidosa. Chegou até o ouvido o eco da fala da mãe pedindo para correr à venda: um retrós de linha branca, 2 metros de elástico... Revivi a atração da intensa variedade de belas rendas, tirinhas de strass e lantejoulas, fitas de cetim, sutaches, passamanarias e sianinhas. No ímpeto do espírito artesão decidi consertar a peça.
Aproveitei o sábado e saí em busca do tal fecho. Não queria o prejuízo do sutiã novo sem uso. Vasculhei os cantinhos do centro da cidade, uma porta comercial mais tímida, sem vitrine, mas que vendesse o equipamento. Nada! Lãs, linhas, agulhas, botões, alfinetes. Porém, nenhum fecho delicado que se encaixasse na delicadeza do artefato.
Decepção. De propósito de arrebatamento fálico a investimento falido! Entretanto, com uma pontinha de esperança – precipitado ainda desfazer-me dela – aposentei a lingerie no fundo da gaveta. O desejo agora é tão somente de correr de volta para o abraço.
O nosso modo de viver modificou-se muito nos últimos anos. Ainda bem que se mantêm os abraços. :)
ResponderExcluirBeijo :)
Nostálgico, abriu alguns abraços guardados nas gavetas.
ResponderExcluirwww.entre-primos.blogspot.com
Maravilha, Marcia!
ResponderExcluirTudo bem alinhavado com o vocabulário precioso da memória da filha da costureira. E costurado com o capricho de sempre.
Há quanto tempo eu não lia nem ouvia palavras encantadas como sutaches e passamanarias.
De resto, é sempre bom ter no fundo da gaveta um produto que voltou a ser projeto. Vão-se as taças, ficam os (an)seios!
Beijos
P.S.: E a banda de Santa Rosa, já passou? Cantando coisas de amor?
Muito bom, Márcia. Uma coisinha tão prosaica conseguiu atiçar tua memória afetiva e nos brindar com uma crônica tão bem humorada e sutilmente picante.
ResponderExcluirMárcia, Márcia... Essa sua mania de juntar coisas díspares traz sensações tão diferentes! Viajei para o ateliê da minha mãe, cheio de cores e formas (quem sabe lá acho um fecho para vc?) e constatei, quase com incredulidade, que nunca tive um sutiã vermelho...Precisamos resolver as duas coisas!
ResponderExcluirGostei das suas postagns.
ResponderExcluirTodas elas delicadas e sensíveis...
Abraço
Pude sentir cada palavra, Márcia. Mais que isto, imaginei tudo. Juro-te! A elegância sensual do texto é um encanto!
ResponderExcluirBeijo.
Olá, AC
ResponderExcluirHá coisas que a tecnologia nunca substituirá, não é mesmo? Obrigada por sua visita.
Oi, Mayara (primos)
Estava aqui pensando sobre a importância das gavetas. Como precisamos delas!
Um beijo enorme para você.
Olá, Tuca
Coloquei coisas na gaveta, tirei coisas da gaveta... nesse engaveta, desengaveta, vou esperando a banda (que ainda vai passar).
Beijos
Oi, Paulo
Estou aprendendo que o poético vem do prosaico.
Giuliana, querida
ResponderExcluirVamos, sim, resolver todas essas coisas.
Afinal, rosa não é a cor feminina! Pueril demais!
Só para você um pedacinho de Carmina Burana (III. Cour d'amours > 17. Stetit puella)
Stetit puella
rufa tunica;
si quis eam tetigit,
tunica crepuit.
Eia!
Beijos :)
Oi, Malu
ResponderExcluirÉ gratificante esse retorno.
Obrigada pela visita e por seguir meu blog!
Seja sempre bem-vinda!
Um abraço
Olá, Ricardo
Nem precisa jurar. Sei da sinceridade de seus comentários. Só não sei se sua imaginação extrapolou a minha.
Beijos, querido.
O "sexy" nem sempre está preparado para o calor dos abraços. É "sexy" só de ver, só nas aparências. Não suporta um abaço apertado. E isso não se aplica só a sutiãs...Ainda bem que você escolheu o abraço apertado.
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