sábado, 10 de abril de 2010

Do que vai escrito nas estrelas

     
Acabo de ler meu horóscopo mensal. Meio vencido, pois que já vai um terço do mês! Deus meu!, não ando conseguindo acompanhar esse tempo relativo que o Einstein resolveu decretar. Saudade daquela semaninha de sete dias do Gênesis, em que luz e treva se sucediam normais por seis vezes e na sétima era o direito ao descanso. A astrologia revela-se também tempo, ante meus olhos ledores de qualquer coisa que se faça signo, e traz cronologicamente um fim e um início.

Reproduzirei, mas – ah! – não citarei a fonte. É horóscopo; está escrito nas estrelas!!! Tão fácil também descobrir essa fonte! Eis: “Março acaba e deixa um presente pra você: mais consciência e amadurecimento. Com isso, você pode escolher com segurança onde quer colocar seu empenho daqui em diante. Abril será um mês de desafios e você agora já tem conhecimento pra seguir sem se abater por isso.”

Não pensem, porém, que falo disso sem conexão alguma. Repito aqui essa ideia de encerramento porque a morte esteve próxima a mim durante o mês de março e também nesta primeira dezena de abril. Por pessoa que morreu... por conversa sobre o assunto... por devaneios da mente, por tragédias urbanas... talvez também porque a quaresma insiste em esmagar os últimos dias do verão. A morte... desígnio divino, superação, livre arbítrio. Não pode o homem deliberar sobre o fim da sua própria vida? Se a morte é a única certeza, por que tanto medo dela? Acaso o homem só gosta do incerto? ... E o verão morrendo, para dar lugar ao outono, que também, a seu modo, é morte.

Já me fiz morrer inúmeras vezes nos textos que escrevo. Confesso, às vezes é bom me matar. Faço melodramas, choro horrores observando meu corpo dilacerado em meio a palavras desconexas. Há um sádico prazer na desconstrução. Morrer é fugir do peso que nos imputam ao nos fazerem acreditar que é preciso saber viver. Quem deveras sabe viver? Pecado original é na verdade a dor da existência. A morte é salvação. Porque é prenúncio de vida. Da páscoa que vem a seguir.

A páscoa é o que vem após a morte, no abril da renovação. Algo há de surgir após as indagações. Mas vejam bem o que virá: desafios. Como se cada dia já não me trouxesse um desafio! Oxalá, se não é pra continuar morrendo?... Viver é perigoso, já dizia Guimarães Rosa. E a terceira margem do meu rio me acena com mais consciência e amadurecimento. Claro! O tempo passando, absoluto em sua relatividade. Sou obediente nessa história de amadurecer – por dentro. A pele, rebeldia deliciosa, continua avessa às rugas, refletindo minha obsessão por deixar as roupas alisadinhas, mesmo que isso signifique horas a mais junto ao ferro de passar.

Roupas bem passadas no armário são um luxo, um presente para mim, praticamente um guarda-roupa renovado! Salvação! Elas retornam aos cabides, às prateleiras, todas as sextas-feiras, rotineiramente, pra dizer que o dia seguinte é o dia sétimo. Ainda que a obra não esteja toda feita e que o período do descanso não esteja sob controle de homem algum. Todas as coisas seguem. Escritas nas estrelas!
      

3 comentários:

  1. O seu maravilhoso texto me fez lembrar do filme que acabo de assistir no Cineclube: "Ensina-me a viver", conhece? É tão engraçado essas coincidências (ou não?)!

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  2. Pois é! A Páscoa e tempo de Recomeçar... recomeçar do zero? Não! Recomeçar do começo (isso sim), mas com a vantagem de ter já em mãos as experiências vividas por tantos outros recomeços e a aprendizagem de tantas outras mortes. Ou será que pensamos que morremos apenas uma vez, no físico, apenas? Não! A morte se faz a cada sorriso não dado, a cada palavra não dita, a cada grito não anexado no ar. A morte se faz para que a Páscoa, tempo de Ressurreição, restauração, LIBERTAÇÃO possa ser em nós, a cada dia, a cada instante, a fim de impregnar em nós o desejo e a atitude de sempre querer ser melhor, no físico, no psíquico, no espiritual, principalmente! Feliz e Graciosa Paixão; Feliz e Eterna Páscoa!

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  3. ah, as renovações...a cada ano temos várias oportunidades de renovar. No pimeiro dia do ano, ainda na festa de Reveillón, fazemos lista de planos para um ano novo. Eis a primeira tentativa de renovação. Mas a rotina nos engole, esquecemos as sete ondas e a romã, daí vem o Carnaval, e a nossa promessa de "agora sim tudo irá mudar, agora sim o ano vai começar". O trabalho nos pega de jeito e daí vem a Páscoa, com mais uma proposta de renovação. Desta vez religiosa..."vai que dá certo?" Percebendo então que não nos tornamos novo, tentamos depois das férias de junho: "ah, no meio do ano eu vou mudar isso, vou fazer aquilo..." e mais uma vez nos perdemos nas nossas atribulações, dessa vez com mais intensidade, afinal, pensamos: "já estamos no meio do ano!!!" e novamente a renovação fica para o ano que vem...
    Na verdade, acho que a gente se renova à força, com os tapas da vida. Não tem muita data não. O importante é renovar. Ler o horóscopo talvez ajude, afinal, ele sempre traz promessas de renovação. Melhor então ler o horóscopo diário, não é mesmo? rsrs...beijos, professora.

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