terça-feira, 17 de agosto de 2010

O orvalho da lua



A luapor Bobby Mikul

Permita-me, leitor, que inicie meu texto com uma advertência. Na realidade, vou até abusar dessa permissão. Farei duas advertências. Sei que, ao fim das contas, é quase trabalho inútil. Vão as tais, porém, traduzindo, em linhas, o meu pensamento. Só leia este texto caso seu desejo de se tornar astronauta ainda soe forte no momento em que, pueril e louco, procura por vestígios líquidos nas crateras de outro corpo celeste. Só leia este texto caso esteja preparado, herói, para – elmo , escudo e armadura de terceira era – enfrentar o solo nu e misterioso habitado pelo dragão de Jorge.

Não se assuste, entretanto. Explico já o motivo de toda essa precaução, mesmo que, ainda assim, eu possa não me fazer compreender. Momentos antes de escrever o que aqui se segue, encerrei a leitura de uma reportagem* em cuja primeira página letras enormes veiculavam: “A nova lua é úmida, tem água, gelo e orvalho”.

A lua antiga já se fez cenário para as hieródulas dos templos gregos e para os seguidores emasculados de Cibele. A lua antiga já foi esperança de promessas de telescópio e espectometrias. A lua antiga já foi tapete para os pés de Armstrong. A lua antiga já foi cúmplice de minhas (nossas!) noites românticas, vapores a entontecer, o contraponto do brilho frio para o calor do afago...

Hoje... essa nova lua... que, pelos prazeres da ciência, se perdeu como divindade do puro prazer; essa nova lua que me vem em imagens coletadas por uma sonda espacial... Essa nova lua vem de novo, no novelo imaginário da fantasia. Faz-me falar de coisas esquecidas, perdidas no sol das horas. Apresenta-se como novo mistério. E o mistério é úmido! A água da vida no jogo do ocultamento e da revelação.

Não queira, leitor, chamar-me lunática! Seria apenas uma brincadeira semântica. Não queira também classificar meu texto com base nas categorias racionais em que aprisionaram sua forma de pensar o mundo. Tempo que se escoaria em vão.

Deixe apenas que eu fale assim, que eu siga assim, na minha condição feminina de intercalar fases. Que eu, desejosa de eclipses, seja ora crescente, ora minguante! E que, entre os estados sóbrio e ébrio da minha frivolidade, eu sinta o poder das marés como que a inundar-me com o orvalho da lua, a velha-nova úmida lua!

* Revista Planeta - Agosto/2010 
    

9 comentários:

  1. A sua prosa, plena de subtilezas, escorre, fácil, na minha satisfação. Não sei em que fase da lua foi forjada, mas sei que foi em boa maré.

    Beijo :)

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  2. Márcia...

    Antes de mais nada, agradeço sua visita lá na Academia. Foi uma honra ter seu comentário no meu poema.
    Olhando seu blog e seus belos escritos, convido-a em meu nome e em nome da Beatriz Prestes a Participar conosco da nossa Rede de Literatura, a Casa da Poesia... um lugar de amigos e literatura.
    Acesse www.casadapoesia.ning.com e veja nossa home page. Se tiver interesse, deixe no meu blog ou no blog da Beatriz (http://reviveremversos.blogspot.com) um email para que possamos enviar um convite a você.
    Parabéns pelo seu trabalho e mais uma vez obrigado por sua presença nos meus trabalhos.

    Renato Baptista e Beatriz Prestes.

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  3. Um deleite, estas ondas que crias. Deixei-me flutuar, maravilhado de plânquitos. Magia, pura magia.

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  4. Márcia, querida, vim apenas dizer que comprei um terreninho na lua e fiz lá uma casinha modesta; certamente é tua casa também.

    Um grande beijo. ;-)

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  5. Oi Márcia...

    Recebemos seu recado. Não é preciso convite... é só entrar no endereço www.casadapoesia.ning. com e se cadastrar... aprovaremos assim que estiver lá.
    Abraços*

    Renato e Beatriz.

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  6. Sob o magnetismo da lua você nos imanta em seu texto, assim como à sua amizade, que só nos enche de alegria. Sucesso...sempre.

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  7. Obrigada, amigos, pelos comentários. De uma fase a outra da lua, caminhamos juntos aqui neste planeta!

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  8. Muito bom seu texto, parabéns e tudo de bom pra você.

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  9. Que legal sua postagem! Muito bonita! Eu também tenho o hábito de ver a lua, de suspirar quando caminho pela noite e a vejo forte! Ou quando volto pra casa e ela está como uma moeda a cair no cofre chamado poli da UNIFEI! ...rsrs... Tenho lembranças da lua... como quando eu curtia o frio da manhã na escola e a lua estava lá paradinha no céu claro! ^^ A lua mesmo explorada, explicada, ampliada pelas fotos em satélite não perde o charme romântico que só ela tem! ^^ Ela é como uma árvore centenária! Me viu nascer, viu meu primeiro amor e me verá velhinho olhando para ela e ainda cheio de sonhos vou dizer que ela é linda quando está cheia! =D

    Ótima semana para você! =D

    Abraços!

    http://neowellblog.wordpress.com

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