Eu te amo ele dizia a ela e ela sabia que era verdade. Ele falava do perfume dela, gosto tanto! Ele a amava muito. Tanto amor que não cabia dentro dele. Isso lhe causava muito receio. Mas ela ria quando, no auge do gozo, ele falava um palavrão. Ele dizia até me esqueço que estou com uma dama. Aí ele mudava o vocabulário e amava mais ainda a cara de satisfação que ela fazia na entrega.
Um dia, depois de fazer amor, ele lhe perguntou se ela não sentia vontade de lhe bater. Ela disse não, por quê? você sente? Ele lhe confessou que sim. Ela riu e o beijou e se ofereceu de novo, inteira. Ele a amou, amou, amou...
Depois ele mergulhou em silêncio profundo. E não soube o que fazer com aquele grande amor. E foi se afastando...
Naquela noite ele entrou no bar. Ele nunca imaginou que a encontraria naquele lugar. Ela, depois de tanta água nos olhos, ainda mais linda! Falava coisas que denunciavam as marcas de sua ausência. Eu te amo ele disse a ela e ela soube que era verdade. Ela sabia que ele nunca deixaria de amá-la. Ela não falou nada. Saíram dali juntos. Silêncio profundo no pouco espaço daquele carro.
Silêncio também no leito que devolveu o sorriso a ela e que despertou nele aquela vontade novamente. Ela entendeu, beijou-o, deixou acontecer.
Horas depois, quando ele acordou, não sabia explicar onde estava. Por entre os vãos da grade via o rosto dela, amava a cara de satisfação que a fazia ainda mais linda, e enxugava a água de seus olhos. Tanta! De repente isso lhe causou muito receio. Viu o lençol, sentiu o perfume dela. Chegou o lençol ao rosto, foi enrolando, apertando. A imagem dela mais próxima. Eu te amo tanto!...
Alguém teve a ideia de enterrá-los na mesma cova. Aquele amor era pra sempre.
Cruz por Petr Kratochvil